
O padre entrou e fez-se um instante solene de expectativa... Que logo foi interrompido pelo próprio padre saindo correndo pela porta, tropeçando na batina e beijando o chão.
– Seu padre! Pelo amor de Deus, que que tem lá dentro? – Perguntou dona Lúcia.
– Padre, o sinhô ta branco! Que foi que o sinhô viu lá dentro? – Indagou seu Chico.
– Um bicho. – Respondeu o padre. – Um bicho cabeludo.
– Credo! – Todos, em uníssono.
– Um bicho cabeludo, que correu atrás de mim.
– Mas deu pra vê que bicho que era? – Perguntou dona Lúcia, arregalando os olhos, enquanto via dona Maria, a dona da casa, chegando do serviço, espantada com o tumulto na porta de sua residência.
– Num vi, minha fia, tava escuro...
– Ara! Que que tá aconteceno aqui? – Quis saber dona Maria.
– Tem um bicho cabeludo na tua casa cumadi! – Exclamou dona Lúcia. – E correu atrás do padre!
– Bicho cabeludo? Pêra já!
– Cumadi?!
Dona Maria passou por cima de todos e entrou na casa de supetão. Podia-se ouvir:
– Ara! Coisa feia! Que que ocê tá fazeno aí, Xandoca?! Ô Zé! Zé cadê ocê? – Dona Maria saiu na porta. – Argum doceis viu o Zé?
Ninguém entendeu. Parecia uma procissão de gente com cara de tonto.
– Cumadi Maria, ocê num fico com medo da assombração?
– Ara, Lúcia! Que assombração o quê...?
– Que gritêro que é esse Maria? – Chegou seu Zé esbravejando.
– Que gritêro que é esse?! É ocê impiastro de ômi! Cume que ocê me larga a tramela da porta do chiquero aberta?
– Quê?
– É! A Xandoca tá lá dendicasa, patinano no chão encerado. Num consegue andá, patina, patina e cai. “Rec-rec-rec-rec tuuum!”.
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