quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Muro



Certa vez, um homem estava caminhando em cima de um muro, como um equilibrista oscilando na corda bamba.

Percebeu o homem, que de um lado do muro havia uma multidão de anjos gritando e implorando desesperadamente:

- Venha! Desça para cá, venha para este lado!

Do outro lado, o homem viu outra multidão, mas de demônios. E o que o intrigou muito foi que eles estavam parados. Todos eles simplesmente olhavam com um certo sorriso malicioso nos lábios.

O homem ficou confuso. Achou estranha a algazarra que os anjos faziam para que ele descesse para aquele lado enquanto os demônios nem sequer se manifestavam. Não deu-se por contente, abaixou-se e questionou um dos demônios:

- Responda-me, por que os anjos querem tanto que eu vá para o lado deles e vocês nem se manifestam?

A isso o demônio respondeu:

- Esse muro, onde você está, faz parte de nossa propriedade.



PENSEM NISSO...

sábado, 25 de julho de 2009

Fim





Puxei as barras com muita força, mas nada aconteceu. Empurrei-as então, mas em vão. Tentei tirar forças de todos os meus órgãos, de todos os meus membros, de todas as minhas células... Nada. Fui novamente dominado por um bando de animais que me prenderam, me amarraram em uma túnica estranha e comprida demais. Senti-me levado, enquanto bradava estrondosamente e o portão afastava-se de mim inevitavelmente.

Fui colocado, outra vez, naquela mesma sala pequena e branca e, novamente, a serpente me picou. Acho que seu veneno havia enfraquecido, pois demorei um pouco até perder os sentidos... Enquanto isso, pude ver a serpente, seu vulto, pela porta, segurando algo perto do rosto e dizendo coisas estranhas aos meus ouvidos, frases parecidas com: “ Alô?! Gostaria de falar com a dona Raquel... Hum, dona Raquel?! Aqui quem fala é Shyrlei, sou enfermeira no Hospital Psiquiátrico Jardim II e estou ligando pra falar do Sr. Antônio. O que houve?! É o segundo ataque e a quarta tentativa de fuga dele em menos de três dias... Ah! E tem mais, o último cheque que a senhora mandou acaba de voltar... Não! Não tem mais jeito... Estou enviando uma ambulância com seu tio... Devem estar chegando aí em umas duas ou três horas... Passar bem!



FIM!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Portão







Era uma sala pequena, toda feita de um tipo de pedra branca que refletia a luz que entrava de uma janela também pequena, mas que deixava tudo tão claro, enlouquecedoramente branco e claro. Havia duas camas. Eu estava em uma delas e havia um humano na outra. “Será que estou preso? Fui feito refém por animais? Será loucura?” Pensei.

Tinha recuperado meus sentidos quando entrou pela porta estreita da sala uma serpente, que rastejava parte do corpo no chão enquanto mantinha a outra ereta e imponente, como uma pessoa arrogante faria. Olhou em meus olhos percebi que era a mesma serpente que havia me dado aquela mordida. Quis enfurecer-me novamente, mas ela olhou em meus olhos profundamente e entendi, não sei como, que poderia sair se quisesse.

Saí da sala, passei por um longo corredor frio e saí, novamente, naquele jardim lindo, bom, nem sei se era um jardim, mas parecia.

Os humanos estavam dando cambalhotas, pulando,correndo, brincando... Outros estavam parados, lendo, cantando, enquanto os animais estavam ajuntados em pequenos grupos. Pareciam estar planejando algo, confabulando.

Fiquei novamente aflito e fiz muita força para me controlar; se desse um ataque de novo seria derrubado. Observei tudo em volta. Num canto isolado havia um portão. Estranho, só havia o portão. Não tinha muro ou cerca. Era o portão, do nada, como se fosse uma escultura ou um enfeite.

Entretanto, não pensei duas vezes, corri para o portão e, segurando nas barras de ferro que o compunham, comecei a fazer força para abri-lo... (CONTINUA)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Frenesi



Assentaram-se, então, todos em bancos de madeira, em círculo e principiaram a levantar e a falar coisas que eu não compreendia e, por mais estranho que pareça, isso era conduzido por animais antropomórficos. Havia um boi almiscarado e um bisão que se comportavam como líderes e designavam outros animais para conversarem e desenvolverem atividades com os humanos. Havia avestruzes, hipopótamos, cães, galinhas, serpentes e um gorila grande e velho.

De repente tudo passou a ser estranhamente distorcido para minha percepção e senti-me abafado, aflito, desesperado, como um claustrofóbico trancado em um baú três vezes menor que seu próprio tamanho. Descontrolado comecei a gritar e me atirar no chão, debatendo-me e tentando atingir os animais ou os humanos, ou nada...

Todas as vozes animalescas pareciam direcionar-se precisamente a meus ouvidos, atingindo em cheio meu cérebro que pulsava forte como um coração “taquecardiado”. O aroma suave da brisa, agora, era um odor acre que ardia minhas narinas e ressecava minha garganta.

Esse frenesi durou uma eternidade e cessou quando vi uma serpente olhando profundamente em meus olhos, logo em seguida senti uma forte dor em meu braço e tudo tornou-se nada... E o nada era uma escuridão tremendamente tranquila.

Passaram-se duas, talvez três horas – ou será que foram dias? – e despertei novamente, apascentado e com vigor, mas não estava ao ar livre como antes... (CONTINUA)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Despertar





Quando acordei, não sabia exatamente há quanto tempo estava dormindo. Parecia ter tirado um leve cochilo e, ao mesmo tempo, parecia ter dormido realmente bastante. Não sabia, também, onde estava e não estava só. Havia muitas pessoas em derredor e quase todas elas pareciam estar confusas assim como eu.

Comecei, então, a caminhar em volta para certificar-me de onde estava e, apesar de não saber o que estava acontecendo, sentia-me muito bem. Logo comecei a reconhecer algumas pessoas, amigos, familiares e outros que conhecia, mas não sabia de onde ou de quando.

Quando olhei para cima, quase não pude voltar o olhar à frente. O céu era tão lindo... Era azul, como sempre, mas o azul era incrivelmente deslumbrante e indiscutivelmente indescritível. Havia, também, um aroma agradável e acalentador difundido pela brisa leve que soprava sem cessar.

Vi então, pessoas abraçando umas às outras e se ajuntando num lugar logo abaixo de onde estávamos e fui para lá também. Em meio a uma grama muito viva havia ruínas e pareciam familiares, mas não conseguia lembrar-me ou talvez nem quisesse...(CONTINUA)

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