sábado, 8 de agosto de 2009

Os Três Conselhos - Fim



No outro dia, passando em frente a uma propriedade, João percebeu que havia uma moça amarrada em um poste e um guarda ao lado. Ficou indignado e já ia perguntando o motivo de aquela moça estar ali presa daquele jeito, mas ponderou e lembrou-se do segundo conselho: “ Você não tem nada com a vida de ninguém”. Resolveu, então, acatar o conselho e não perguntar nada.

Assim, o guarda indagou-lhe:

- Não vai querer saber por que esta donzela está presa ali?

- Não.

- Não mesmo? – Insistiu.

- Não. – Disse João novamente.

Imediatamente o guarda pegou uma faca e cortou as cordas que atavam a moça, libertando-a. João não entendeu nada. A moça abraçou-o e explicou-lhe que o dono daquela propriedade era um excêntrico e sádico e que, toda vez que alguém questionava o motivo de alguma moça estar presa lá, ele as matava, mas se, por acaso, uma pessoa não demonstrasse interessa, as moças eram libertas.

O guarda ofereceu-lhe pouso, mas João preferiu seguir viagem – nunca se sabe o que pode acontecer à noite na casa de um excêntrico e sádico.

Seguiu mais algumas horas que pareciam as mais longas e pesadas de toda a viagem, mas, finalmente, avistou o casebre na penumbra do anoitecer. Estava um pouco diferente do que costumava ser. Parecia um pouco maior e mais novo. Havia um jardim e uma horta e uma vaca e as janelas estavam pintadas de azul! Ah! Que prazer era volta pra casa. Como o até o cheiro do ar das redondezas era diferente!

Chegou até a porta e resolveu espiar pelo buraco da fechadura antes de entrar. Pôde observar em um canto um homem e uma mulher, no outro canto, sentada em um sofá, viu Maria e havia um rapaz muito bem aparentado deitado em seu colo, enquanto ela afagava seus cabelos.

João foi tomado de uma ira feroz e crescente! Sacou sua cartucheira e decidiu entrar e acabar com a vida da ingrata da mulher que não conseguiu sequer esperá-lo e já caiu nos braços de outro enquanto ele esforçava-se para dar-lhes o sustento. Ah! Não podia ter feito isso, Maria.

Ia abrindo a porta quando lembrou-se do terceiro conselho: “ Pense três vezes antes de tomar uma atitude”. Assim, olhou de novo pela fechadura e viu sua esposa beijando o rosto do rapaz. Desconcertou-se, não tinha jeito. Agora ia matá-los, tinha de defender sua honra, lavá-la com o sangue da mulher adúltera e do safado que a roubara dele. Mas ponderou e olhou novamente pela fechadura. Viu o rapaz levantando-se, estendendo a mão para Maria e dizendo:

- Sua benção, minha mãe! Vou indo dormir.

João, envergonhado, lembrou-se, então, do filho que deixara no ventre de Maria quando seguiu viagem. Com os olhos vermelhos de choro, abriu a porta e a alegria foi imensa! Seus filhos mais velhos receberam-no com muito amor, assim como sua sempre fiel esposa. Abraçou seu filho mais moço e pediu perdão por não ter acompanhado sua criação.

Passaram a noite contando histórias, conhecendo-se de novo, achegando-se uns aos outros novamente. Nesse momento, João lembrou-se do pão. Devia cortá-lo apenas quando estivesse muito feliz, então o partiu. Tamanha foi a surpresa quando viram que o bendito pão estava recheado não de queijo, ou torresmo, mas de dinheiro, mas muito dinheiro. Bem mais do que a quantia que receberia se tivesse feito o acerto com o patrão da maneira convencional. Mas o mais importante ali não era o dinheiro, mas a felicidade e a lealdade daquela família.

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