domingo, 13 de dezembro de 2009

Conto: Papilote



Dona Tianinha estava entrando em casa, tropeçando nas filhas e sobrinhas que pareciam mais uma infestação, quando deu a notícia:
- Maria Papilote vem aqui essa semana visitá nóis. Meninada, vamo arrumá bem a casa, prela não sair espaiano que nóis vive num chiqueiro!
- Mas quem qui é essa mãe?
- Que nome, tia!
- Ela é minha prima lá da capitar, ela nasceu aqui e nóis brincava junta quando era criança, mas a minha tia foi embora pra cidade grande há uns par de ano. Mas vamo Pará de prosa. Pode i passano a mão nas vassora.
E foram limpando, varrendo, espanado, lavando... Um bando de meninas que mais parecia um formigueiro. Foi um belo dia de trabalho, até que terminaram a limpeza e a casa ficou um brilho só. Era impressionante uma casa, com aquela quantidade de crianças, estar tão limpa e arrumada. E quando digo “quantidade de crianças”, bota quantidade nisso. Eram três filhas e um filho caçula. Cinco sobrinhas e três sobrinhos, além da dona Tianinha e do seu Quinzinho, o pai.
Na hora de dormir:
- Meninada, vem aqui que eu vô pô uceis pra durmi. Os menino dorme no chão, ali atrais do sofá. Põe aquele coxuado ali e vamo deitá. As menina dorme duas comigo, duas no sofá grande, uma no sofá pequeno e três na cama do quartinho.
- Ahh não! A senhora sabe que nóis num dorme sem história... Cadê o pai, fala prele vim contá história senão nóis num dorme!
- É memo tia Tianinha! Se o tio Quinzinho num vié contá história pá nóis, nóis vamo ficá aqui gritano a noite interinha!!!
E começaram a gritaria. Era um absurdo! Parecia um galinheiro de aves hiperativas sedentas e famintas.
- Tá bão! – Gritou seu Quinzinho lá de fora. – Tô ino, tô ino!
Sentaram-se todos ao redor dele e prestavam bastante atenção na história que falava de um ser estranho que, segundo ele, tinha visto numa fazenda longe dali. O corpo-seco. Ele dizia que uma pessoa que era muito ruim, não morria nunca, virava corpo-seco, e ficava condenado a assombrar os outros pela eternidade.
- Esse corpo-seco meninada, esse aí era pior que os ôto. Além dele sê ruim quenem o cão, ele batia na mãe.
- Credo tio!
- É, ele era tão ruim que um dia ele chegou duma festa na cidade e a mãe dele tinha dexado o cavalo dele fugi. O que que ele feiz?
- O quê???
- Pois a sela na véia, muntô nela e desceu a chibata.
- Que horror!
- É por isso que ele fica lá assombrano a fazenda que era dele...
- Mas esse bicho ixiste memo tio?
- Garanto puceis que ixiste. Ele tem um zóio vermeio quenem fogo.
- Ahh... Eu duvido!
- Ceis pode acreditá! Eu acendi meu cigarro de paia no zoião de fogo dele...
- Tá bão, chega de história, vamo durmi criançada!
- Ahhh mãe!
- Vamo já.
E foram cada um pro seu cantinho dormir.

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