segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Maíra



Maíra estava sentada perto da janela, em seu quarto, olhando o céu imaculadamente azul de um domingo parado, com um sol austero que reinava em tirania. Seus olhos estavam fixos, mas seu olhar era difuso, como se analizasse fria e atentamente o casamento do nada com a monotonia. Tinha a impressão, às vezes, que tudo ganhava uma coloração sépia, a não saer pelo céu. Ficou parada ali quase a tarde toda. Só se distraia quando, eventualmente, um passarinho voava rápido, perto da janela.
Quando parecia que Maíra tornara-se um objeto de decoração em seu próprio quarto, como uma escultura retorcida e esquecida num canto, algo chamou, extraordinariamente, sua atenção. Era uma pessoa; um homem, passando pela rua. Ela não se deu conta dos detalhes desua aparência, estatura, idade, se era gordo, magro, branco ou pardo. Maíra, tão somente, enchergava seus olhos. Profundos olhos que eram um misto de mistério e doçura. Muito pretos. Vítreos. Realmente como um vitral, ou um caleidoscópio, que evocava-lhe as cores mais belas e atraentes... (CONTINUA)

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