terça-feira, 14 de dezembro de 2010

PRÓLOGO

— As sakura pareciam bem mais graciosas naquela época. — pensou alto, enquanto observava o jardim e estendia um pouco o olhar até o bosque além dos muros que a cercavam. O cantar dos pardais que, antes, alegrava-a extraordinariamente, mais até do que as histórias sobre os destemidos e honrados samurais, agora a deixavam angustiada, aflita, sufocada.
Harumi lembrava-se do tempo em que atraía os olhares de todos na cidadela com a sua incrível beleza, assim com essas exibidas flores rosadas faziam nesta época do ano. Talvez fosse por isso que a incomodava tanto olhar para elas agora. Antes, elas costumavam ser coadjuvantes por onde Harumi passava. Senhores de terras dirigiam-se, com frequência, a sua família com propostas de casamento. Ela se divertia muito em pedir para seu pai recusá-las. Ela fazia muitas das vontades dela, o que era raro entre os patriarcas da época. — Se fosse possível retornar alguns anos... Apagar alguns passos e refazer alguns castelos... — Suspirou alto. Deixou-se levar por devaneios nostálgicos durante algum tempo, enquanto via o vento carregando as dolorosas pétalas rosadas das flores das sakura.
— Harumi, vamos! — Foi trazida de volta à realidade pela voz aguda de sua dama de companhia. — Já está na hora!
— Yasu, venha, ajude-me a levantar... — Era difícil para ela se locomover naquele estado. Apoiou-se nas palmas das mãos firmes e ásperas da criada e se levantou do pequeno banco estofado que ficava abaixo da grande janela do aposento. Deixou escapar um gemido, misto de esforço, desconforto e dor.
— Há algo errado senhora? — Perguntou a criada.
Todas as respostas ríspidas vieram-lhe à mente. Como se aquela velha não soubesse! Eram quase 7200 horas de coisas erradas e ela ainda tinha de ser gentil, cortês e, pior ainda: hospitaleira. Receberia o Daimyô para o chá. Provavelmente ele traria as condolências pela honorável morte horrível e sangrenta de seu marido defendendo a vida de algum membro importante da aristocracia, ou a honra preciosa de uma inocente pétala de sakura. Então, ela simplesmente respondeu:
— Está tudo bem, Yasu. Só um pouco cansada com tudo isso. Agradeço-lhe pela ajuda.

Um comentário:

Hendric Sueitt disse...

uhuuuuuu... começamos!!

to curtindo, quero ver mais!

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